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tera, 23 de abril de 2024
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A importância do projeto pedagógico e medidas emergenciais

A importância do projeto pedagógico e medidas emergenciais

Em todas as atividades desenvolvidas pelo ser humano, para serem bem-sucedidas, é necessário saber inicialmente “onde se quer chegar”. Se não soubermos “onde”, não poderemos dizer se nossa atividade será ou não bem-sucedida. Na linguagem de um gestor, diríamos atingimos ou não atingimos a Meta ou o Objetivo.

Aliado à meta, ou ao objetivo, deve-se estabelecer um caminho para se “chegar”. Portanto, ao relembrar o vocábulo grego οδ?ς (odós), que significa caminho, e associando-o à meta, temos a palavra Método, que pode simplesmente ser traduzida como “o caminho para se chegar aonde se deseja “.

Deste modo, toda atividade necessita de método, que fará parte de um Plano de Ação, o qual integra algo maior, conhecido por Projeto. No âmbito da Educação, temos o Projeto Pedagógico, que é imprescindível em qualquer sistema, seja ele da Rede Particular de Ensino, seja das Redes Públicas (municipais, estaduais ou federal).

Um Projeto Pedagógico se estabelece com Objetivos pré-colocados, seguidos dos métodos a serem utilizados, para que os mesmos possam ser atingidos. Só assim poderemos dizer, depois de certo tempo, se a ação foi ou não bem-sucedida. Na Educação, não é recomendado o empirismo, não é recomendado a “tentativa e erro”. Na questão social, isto pode custar muito caro a uma geração. Na Educação, não se pode errar.

Quando se tem uma atividade já em andamento e esta necessita de ajustes, correções ou até de grandes reformas, e a mesma não pode ser interrompida, o gestor, normalmente, propõe ações emergenciais para tentar amenizar os problemas existentes, porém, paralelamente, propõe um projeto de um novo modelo. Com isto, as novas gerações que vierem iniciarão suas atividades neste novo modelo, com vistas a não passarem pelos mesmos dissabores vivenciados pelas gerações contemporâneas.

Fiz esta breve reflexão, como preâmbulo, para poder dar sentido à minha avaliação acerca das medidas anunciadas no início do mês de maio, deste ano, pelo Governador do Estado de São Paulo, João Dória Júnior, e pelo seu Secretário de Educação, Rossielli Soares da Silva, acerca da Educação Básica.

Ficou claro na inciativa dos dirigentes estaduais de que o objetivo das medidas anunciadas é recolocar o estado de São Paulo na liderança do Ideb – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – no ano de 2021. Porém, com esta afirmação, também ficou claro que estas medidas são emergenciais. É como “trocar a roda danificada de um automóvel, com ele em movimento” para se tentar ganhar a corrida que está sendo disputada, mas não necessariamente o campeonato.

As medidas anunciadas me agradaram, pois tratam de pontos importantes num processo educacional. Racionalizar o tempo das aulas, introduzir componentes curriculares inovadores, que tratarão de temas contemporâneos, readequar a carga horária dos componentes curriculares clássicos, com viés inter e multidisciplinar, são ações muito interessantes e bem-vindas no contexto atual do Sistema Educacional do estado de São Paulo, porém, só isto não basta.

Primeiramente, ressalvo o fato de se agir somente nos anos finais do Ensino Fundamental, quando o problema não está restrito aí. Temos sérios problemas na alfabetização, no ensino de matemática e no de ciências físicas e biológicas, desde os anos iniciais, sem contar que diversos municípios do estado ainda não cumpriram sequer a Meta 1 do PNE – Plano Nacional de Educação – que deveria ser atingida até o ano de 2016. Esta meta trata da universalização da Educação Infantil para crianças de 4 a 5 anos.

Considerando-se tudo isto, destaco ainda a importância de uma urgente revisão e reformulação do Projeto Pedagógico do sistema de Ensino para o estado de São Paulo, independentemente destas ações emergenciais anunciadas pelo Governador e Secretário de Estado da Educação.

Metodologias ativas e novas tecnologias são bem recebidas, desenvolvimento de novas competências e habilidades socioemocionais, é muito importante – aliás, parabenizo o Secretário Rossieli por esta brilhante iniciativa, pois tudo isto faz parte de uma nova visão de Educação, de extrema relevância na contemporaneidade – todavia, estou convicto de que tais ações terão pouco proveito, se não tivermos juntamente com elas um Projeto Pedagógico moderno, com professores bem formados e valorizados economicamente e socialmente, juntamente com uma infraestrutura adequada.

Quando vejo ações como estas, lembro-me de outras do passado com as quais não se logrou êxito, exatamente pelo fato de serem incompletas e se limitarem ao momento, sem vistas para o futuro.

Uma destas ações, que se tornou marcante em sua época, foi o MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização (1967 – 1985), que tinha como meta a alfabetização de adultos.

Não obstante seus problemas pontuais, foi uma boa ação para a época, resultou em diversos benefícios, porém, incompleta. Enquanto se alfabetizavam adultos, as crianças que nasciam deveriam ter sido colocadas na escola. Fato que não ocorreu na sua totalidade. Conclusão: as crianças dos anos 1970 e 1980, que não tiveram acesso à escola são os analfabetos de hoje.

Se tivesse havido um Projeto Pedagógico paralelo à ação emergencial, que favorecesse as novas gerações da época, hoje não necessitaríamos da EJA – Educação de Jovens e Adultos.

Assim, reitero minhas congratulações ao Secretário Rossielli pela brilhante iniciativa, mas continuo esperando uma ação mais abrangente e duradoura, com um novo Projeto Pedagógico para a Educação Básica do estado de São Paulo.

Como professor, educador e formador de professores, continuo esperançoso, pois sempre acreditei e acredito que somente com uma Educação adequada à nossa realidade, desde a infância até a Idade adulta, é que seremos a grande nação almejada por todos nós.

Ítalo Francisco Curcio – Pedagogo – Doutor e Pós-doutor em Educação, Coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.