A ideia de uma safra de café recorde no Brasil em 2026, com volume semelhante ao de 2020 (ano que o país atingiu a maior safra do grão da história), está perdendo as forças diante dos últimos eventos climáticos nas principais áreas cafeeiras.
“É preciso cautela. Em 2024, a seca nesse mesmo período foi decisiva para as perdas, mas este ano as lavouras entraram com melhor estoque de umidade no solo e as temperaturas não têm registrado as ondas de calor acima de 40°C que vimos no passado. Não é o mesmo cenário, mas a falta de chuva ainda pode comprometer a safra”, explicou o consultor e sócio diretor da PINE Agronegócios, Vicente Zotti.
Desde 2020, os cafezais enfrentam sucessivos desafios climáticos, com secas, geadas e até granizo em diferentes regiões. Essa sequência de eventos reforça a imprevisibilidade das estimativas de produção. “Embora haja otimismo, a safra de 2026-2027 já foi impactada pelo veranico de fevereiro e março deste ano. Além disso, houve perdas em áreas colhidas com melhor desempenho, em regiões de baixada e, posteriormente, em áreas mais elevadas. As geadas e as chuvas de granizo que atingiram várias regiões cafeeiras no começo do ano também prejudicaram o cenário. No momento, a PINE estima uma redução de, no mínimo, 3,5 milhões de sacas na produtividade para próxima safra, mas ainda temos que aguardar o desenvolvimento da florada”, projetou ainda o consultor.
Os modelos climáticos trazem leituras divergentes. Segundo o analista de mercado da StoneX, Fernando Maximiliano, há consenso sobre a maior probabilidade de ocorrência do fenômeno La Niña, mas sem padrão fixo para as áreas de arábica. Historicamente, o evento está associado ao atraso das chuvas no período da florada e à redução da umidade do solo, fatores que podem comprometer ainda mais o potencial produtivo das lavouras. “O importante é lembrar que o modelo climático, por exemplo, não foi capaz de captar o que aconteceu na geada no Cerrado, que ocasionou perdas de mais de 400 mil sacas de café. Então, fica o aviso que os modelos de mais longo prazo, eles erram. Até aqui, as lavouras tiveram um bom desenvolvimento, mas estamos no período agora que é crucial para definir o potencial de 2026”, destacou o analista.
“Ainda não dá para traçar cenários definitivos para 2026. Só após o fim de outubro que teremos clareza sobre o impacto da florada e do retorno das chuvas. Até lá, o mercado deve seguir oscilando de acordo com as novas previsões”, esclareceu Zotti.
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