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segunda, 04 de agosto de 2025
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Tarifa de 50% pode gerar perda de R$ 180 milhões para a cacauicultura brasileira e elevar ociosidade da indústria para até 37%

Tarifa de 50% pode gerar perda de R$ 180 milhões para a cacauicultura brasileira e elevar ociosidade da indústria para até 37%

A Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) manifesta sua profunda preocupação com a entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre os derivados de cacau brasileiros, conforme ordem executiva publicada em 30 de julho de 2025. A estimativa é que, caso a tarifa seja mantida, o setor possa perder pelo menos US$ 36 milhões apenas em 2025, o equivalente a cerca de R$ 180 milhões. A medida, que inclui uma sobretaxa adicional de 40% somada aos 10% já anunciados em abril, passa a valer a partir de 7 de agosto e ameaça diretamente a competitividade do setor, com efeitos que extrapolam o campo das exportações.

Com o novo cenário tarifário, o mercado norte-americano, segundo principal destino dos derivados brasileiros e responsável por 18% das exportações do setor, torna-se economicamente inviável. Em 2024, as exportações de derivados de cacau para os EUA somaram US$ 72,7 milhões (R$ 363 milhões). Somente no primeiro semestre de 2025, os embarques já alcançaram US$ 64,8 milhões (R$ 325 milhões), mais de 25% do total exportado no período.

Mais do que prejuízo comercial, a medida ameaça o funcionamento da indústria nacional de processamento de cacau. Isso porque a estrutura produtiva do setor depende da moagem das amêndoas, cujo subproduto principal é a manteiga de cacau — derivado fortemente demandado pelo mercado americano, que concentra praticamente 100% das exportações brasileiras desse item. Sem a possibilidade de escoamento, as empresas ficam impossibilitadas de manter a produção em pleno funcionamento, o que amplia significativamente a ociosidade industrial e compromete empregos e investimentos nas regiões produtoras, especialmente na Bahia, no Pará e em São Paulo.

Estimativas da AIPC apontam que a ociosidade média da indústria processadora, que já é elevada devido à escassez de amêndoas, pode saltar para 23,83%, podendo atingir até 37%, se considerados os dados consolidados de 2024. Esse cenário agrava a crise já enfrentada por um setor pressionado por quebras de safra e alta nos preços das amêndoas no mercado interno.

A imposição da tarifa também compromete a operação de exportação no âmbito do regime de drawback, que permite a importação de insumos com suspensão de tributos, desde que sejam utilizados para a produção de itens destinados à exportação. A perda do mercado americano inviabiliza o cumprimento de diversos atos concessórios com vencimento entre dezembro de 2025 e março de 2027, gerando insegurança jurídica, risco de multas e aumento expressivo nos custos operacionais.

Diante desse cenário, a AIPC reforça a necessidade de esforço na esfera diplomática para buscar que o cacau e derivados sejam inseridos na lista de exceção da sobretaxa de 40%, garantindo assim a possibilidade da manutenção das exportações de manteiga de cacau para o mercado americano. Além disso, é fundamental que as autoridades brasileiras,  por meio de medidas emergenciais incluam a prorrogação dos prazos dos atos de drawback, linhas de crédito específicas para o setor e apoio à diversificação de mercados. É fundamental evitar o fechamento de plantas industriais e a perda de milhares de empregos diretos e indiretos em regiões que dependem fortemente da cacauicultura para seu sustento. A cacauicultura brasileira é responsável por cerca de 200 mil empregos diretos e indiretos.

A AIPC acredita no diálogo como caminho para a superação desse impasse e reforça seu compromisso com o trabalho técnico e propositivo junto aos governos do Brasil e dos Estados Unidos, em busca de soluções que preservem a previsibilidade, a sustentabilidade da cadeia produtiva e a geração de valor no agronegócio nacional.

Fonte: Noticias Agricolas

AIPC