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sbado, 02 de agosto de 2025
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Indústria do Brasil segue em contração em julho com queda de encomendas e perspectiva de tarifas, mostra PMI

Indústria do Brasil segue em contração em julho com queda de encomendas e perspectiva de tarifas, mostra PMI

A atividade do setor industrial brasileiro seguiu em contração em julho pelo terceiro mês seguido com a queda mais intensa das novas encomendas em dois anos em meio à perspectiva de tarifas de 50% dos Estados Unidos, de acordo com a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI).

O índice, compilado pela S&P Global e divulgado nesta sexta-feira, chegou a 48,2 em julho, de 48,3 em junho. Embora o recuo tenha sido marginal, o índice ficou abaixo da marca de 50 que separa crescimento de contração pelo terceiro mês, sinalizando nova deterioração na saúde do setor diante da perspectiva de tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre as exportações brasileiras para o país a partir de agosto.

“As condições operacionais já desafiadoras no setor industrial do Brasil foram exacerbadas pelo anúncio de uma tarifa de 50% sobre as exportações para os EUA. As empresas identificaram esse obstáculo como prejudicial ao desempenho das exportações e um entrave significativo às expectativas de negócio”, disse Pollyanna De Lima, diretora associada de economia da S&P Global Market Intelligence.

Os dados da pesquisa foram coletados entre 10 e 24 de julho, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar, no dia 9, intenção de elevar as tarifas para importações do Brasil. Na quarta-feira passada, dia 30, Trump impôs a tarifa de 50% sobre a maioria dos produtos brasileiros.

Embora setores como aeronaves, energia e suco de laranja tenham sido poupados das taxas mais pesadas, outros como os de carne bovina ou café, dois importantes produtos da pauta de exportações do Brasil para os EUA, não foram isentados no decreto de quarta-feira.

De acordo com os dados do PMI, as empresas continuaram a reduzir a produção e os níveis de compras em julho em meio a quedas sustentadas das vendas totais e dos novos pedidos para exportação.

O volume de novos pedidos teve em julho a retração mais intensa desde junho de 2023, com os participantes da pesquisa citando com frequência a retração da demanda.

Os novos pedidos para exportação diminuíram acentuadamente em meio ao menor interesse dos clientes da América do Sul, do Reino Unido e dos Estados Unidos, apontou o PMI.

O resultado desse cenário foi a redução da produção pelo terceiro mês seguido, com alguns entrevistados citando o aumento da incerteza do mercado. Os volumes de compra de insumos caíram pelo quinto mês consecutivo e os níveis dos estoques também encolheram diante de custos elevados de empréstimos.

“O enfraquecimento da demanda teve um efeito dominó em todo o setor industrial, levando a novas contrações nas vendas, na produção, nos níveis de compras e nos estoques”, destacou De Lima.

Em relação à inflação, as empresas enfrentaram um aumento maior dos preços de compra em julho, com custos de alumínio, componentes eletrônicos, alimentos, GLP, embalagens, aço e têxteis alegadamente mais elevados. Assim, a taxa geral de inflação acelerou para o nível mais alto em três meses.

Os fabricantes continuaram a repassar os aumentos de custos para os clientes, elevando a taxa de alta dos preços de venda para o nível mais forte desde abril, ainda que abaixo daquela registrada para os custos de insumos.

Por outro lado, houve em julho uma retomada da criação de empregos na indústria brasileira, depois da primeira queda em 23 meses em junho. Algumas empresas preencheram vagas em aberto, mas a taxa geral de crescimento foi apenas modesta.

Já as expectativas de negócio permaneceram positivas, com 62% das empresas prevendo crescimento da produção no próximo ano contra 7% que antecipam queda.

Entre os motivos de otimismo estão as expectativas de melhores condições de demanda e melhorias em outros setores da economia, como a construção civil. Já o obstáculos citados pelas empresas que anteciparam uma queda incluíram incerteza política, orçamentos restritos dos clientes, acesso limitado ao crédito e tarifas dos Estados Unidos.

“O otimismo em relação às perspectivas de produção para o próximo ano foi mantido, embora com preocupações crescentes no que diz respeito a questões políticas, orçamentos restritos de clientes, acesso limitado ao crédito e as implicações da política tarifária dos EUA”, completou De Lima.

Fonte:

Reuters